Lista de Presentes

Quero assassinar meus medos
Estrangular os apegos
Trair a sorte
Viver na morte

Abandonar os conhecidos
Seguir os instintos
Esquecer os vícios
Despertar os sentidos

Ouvir o silêncio
Guardar o bom-senso
Falar tudo que penso

Cancelar compromissos
Me entregar ao ócio
Até que consiga me mover.

Desmistificação

         Sou uma criatura que fui cercada de fantasmas. Eles me assustavam tanto que acabei sucumbindo ao mundo das cores. Dessas cores dei formas, fiz rabiscos e, finalmente, meu mundo, meu paraíso desértico. Nesse lugar só havia o dia e o crespúsculo - e que nos momentos em que não tinha cor, os fantasmas voltavam pra saber se eu estava comportada, minha cara apática era engraçada pra eles. A falta de traços e tons tristes, traziam semblantes de satisfação, saciava a sede do nada que em mim se abria e que viam neles mesmos. Meus encontros com essas criaturas eram sempre em ambientes claustrofóbicos, parecia que estava sob olhares interrogativos de desprezo.
          Desejei a amizade deles, mas viviam muito distante e mesmo de perto eram muito altos. Praticamente me dirigia a eles como um vassalo a um nobre. Percorrendo aqui e alí; vi uns seres iguais a mim, contudo eles não conseguiam enxergar os fantasmas, ignoravam a altura e a autoridade deles. Resolvi, espontânea e rapidademente, me aproximar daqueles seres tão semelhantes à minha alma. Comecei a rabiscar toda a paisagem que construí - a paisagem plana, colorida pelas mesmas cores com uns espaços em branco. Curvas, retas, círculos, ondas: tudo foi tomado pelo rabiscos. Estes funcionaram como cordas alucinadas lançando tudo para o nada, e daí por diante a agitação, a confusão e a incerteza perpetuaram.

Linha Reta

Mente ansiosa. Pensando em tudo o que estará prestes a fazer. Ainda meio tonta, tenta finalmente acordar de vez. Passa por todo um ritual. Pensa que todos a veem, serva do pensamento alheio. Passa pela rua como se tivesse prestes a desaparecer a qualquer momento. Eis que encontra o salvador de sua pátria em fragalhos. Carrega pesos de uma longa viagem e ela ainda se dá ao luxo de o salvador dar conta de tudo. Ele vai embora. Vai como se nem tivesse um dia aparecido.  Seu universo entra em colapso e tudo que lhe resta é dormir profundamente, mas ela acorda. O barulho das pessoas em volta a inquieta a continuar agonizando em vida. Sai e ninguém a vê, ninguém nunca a viu e pensar assim já é suficiente agora, quer ficar invisível um pouco. Vê uma tralha jogada na rua com braços e pernas e lembra que quer salvar o mundo mas se o fizer será a última a pular do barco e pode ser tarde demais para pular... Alguém a avista no alto de seu exagerado drama sentimental e consegue ver beleza... Nos olhos caídos, nos braços presos, no rosto virado, viu beleza... Porém, invisível para si mesma, nem ao menos percebe que o mundo gira. E continua sua trilha como um jato.

Contraponto

Lembrar é alívio da mente
Tortura do físico
Aceitar é ponderar-se
Escravizar-se
Esperar é inquietude
Paciência é pedida

A passividade
A comtemplação
Nada se questiona
Tudo se quer

Esteve viva por muito tempo
Mas quando o encontra
Fica à beira da morte
E se dá conta que vive

A estupidez em que se encontra
À torna um zumbi
Num cenário monótono
No limite entre o deleite e a dor.

As Estrelas

As estrelas
Tão faladas
Metaforizadas
Representadas

Sou mais um indivíduo
Que digo: como brilham
Como encantam
Como são distantes

E por isso, todos querem alcançar
E as quero alcançar, não me importa
se são planetas que se encondem
na luz, não me importa a mil anos-luz
a vagar longe aqui
Se não existe mais e só o que é visível restou

Como é firme a força da gravidade
Como é duro o chão em que só
o atrito me faz andar
em que tenho que me equilibrar

Vou ficar aqui sonhando
Pra ver se vou andando
Ao encontro de uma sombra
pra ficar