Desmistificação

         Sou uma criatura que fui cercada de fantasmas. Eles me assustavam tanto que acabei sucumbindo ao mundo das cores. Dessas cores dei formas, fiz rabiscos e, finalmente, meu mundo, meu paraíso desértico. Nesse lugar só havia o dia e o crespúsculo - e que nos momentos em que não tinha cor, os fantasmas voltavam pra saber se eu estava comportada, minha cara apática era engraçada pra eles. A falta de traços e tons tristes, traziam semblantes de satisfação, saciava a sede do nada que em mim se abria e que viam neles mesmos. Meus encontros com essas criaturas eram sempre em ambientes claustrofóbicos, parecia que estava sob olhares interrogativos de desprezo.
          Desejei a amizade deles, mas viviam muito distante e mesmo de perto eram muito altos. Praticamente me dirigia a eles como um vassalo a um nobre. Percorrendo aqui e alí; vi uns seres iguais a mim, contudo eles não conseguiam enxergar os fantasmas, ignoravam a altura e a autoridade deles. Resolvi, espontânea e rapidademente, me aproximar daqueles seres tão semelhantes à minha alma. Comecei a rabiscar toda a paisagem que construí - a paisagem plana, colorida pelas mesmas cores com uns espaços em branco. Curvas, retas, círculos, ondas: tudo foi tomado pelo rabiscos. Estes funcionaram como cordas alucinadas lançando tudo para o nada, e daí por diante a agitação, a confusão e a incerteza perpetuaram.