Da terra à terra

Olhos de mar
Teu olhar a me carregar
Tuas mãos a me guiar
Me leve para o lado de lá

Me abrace num laço
Que te levo à lua
À noite nua
Ao céu que se abre
E antes que eu me acabe
Me invade

Te guardo como semente na terra
Regando pra manter
Regando pra crescer
Regando pra te ver
Esperando florescer

Pessoa e personagem

É a plateia por trás do palco
Que ajuda a fazer o espetáculo

Anseia a co-participação numa cena
Para que a fantasia tropece na realidade
E quebre o dente.

Para que na dor que se sente
Encontrar na dor que nunca sentiu
Uma mão amiga a socorrer.

E com teus olhos a me ver
E com meu coração a se abrir
A cortina se abra
Para o final feliz.

Destroços

Cenas que reprisam em minha cabeça
Disparadas batidas que animam o coração
A vontade sufocante que provoca
e afoga meus olhos
Uma folha em que vou esconder todas palavras que quero dizer,
mas não vou dizer

Minhas palavras são mapas
Mas não quero que alcance esse terreno badio
Por favor, não entre
Há um coração em manutenção
Será preciso implodí-lo
Para reconstruí-lo
Ele foi construído em terreno movediço
Por erro de cálculo insistiram
Em fazê-lo grande
E por todos agora é considerado um elefante
Branco
Meio acinzentado
Pouco frequentado
Mais um num grande cenário

Egos e ecos

Numa montanha de enganos me soterraram
Quando saí de lá não tinha mais voz
Pois só eu ouço minha voz
Será que até invisível também?
Rondo, gesticulo, e só falam
Nunca se calam

Nunca ouvem
Se olham
Se concordam
Nunca erram