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Certo dia uma jovem senhora se senta ao meu lado. Poderia passar-se desapercebida a mim, porém nos tornamos velhas conhecidas que nunca se viram e não mais se virão. Ela me conta todas as novidades de uma longa jornada em que supera o desgaste físico, mas deixou a alma intacta. Bela educação enclausurada teve. Se transformou em prendada, muitas antes e depois dela estavam prontas, perfeitamente domesticadas para trabalhar no lar. Bem arranjadas com militares, políticos, empresários. Príncipes do mundo moderno tirando-as do calabouço para o alto do castelo. Fui uma paciente ouvinte inquieta tentando imaginar tal situação com insucesso. Contudo, o que mais insistia em rondar a minha mente eram os "porquês": por que contar pra mim?, por que ter acontecido de um jeito tão... "do nada"?, por que isso foi acontecer?, por que algo que aconteceu "do nada" tem que ter alguma explicação ou significado? por que tais situações soam sobrenaturais e misteriosas?.
E segue a jovem senhora solteira. Conta as últimas dos últimos anos. Não casou-se com um casado mesmo ele querendo que o fizesse, mandou-o de volta para a família e o agradeceu pelos serviços prestados durante duas décadas. Seguiu como secretária, amante, ovelha negra de sua geração, que lamenta não poder manter tanto contado com os sobrinhos. Viver sozinha não é sina, sofrimento... é sossego. Se sente satisfeita pelo que fez, não tem planos e se ao fim sua vida quiser ir, seguirá em frente. Seus familiares, que devem estar mais acostumados a enxergar sua alma que idade, prevê a ela mais vida. Entretanto, seu corpo confessa a mim com modéstia que prefere não fazer contas. Fiquei admirada, me dei conta do que poderia me afetar de alguma forma: com tantas coisas mostrando e pessoas seguindo caminhos tão parecidos, muitas vezes me ocorria uma sensação perturbadora de que tudo, por mais que desviasse no caminho, sempre voltava a ele, e se não voltasse, estaria perdido. Sempre ingênua continuo...