Construção

Tudo tem um começo. Pode ser difícil. Causar uma aflição. De repente uma ideia parece. Não é suficiente. Uma ponte que liga o nada a lugar nenhum. Mas a ponte existe e encontra uma partida, porém está sem o outro lado. Sem ele não há um significado, não pode ser uma plena ponte. E vai seguindo. E para. Não desiste. Só insiste em pausar para traçar sua trilha. Quando entende o seu início, vai até o meio e acha o seu fim.
Ah, o outro lado... a imaginação se encarrega de fazer os laços. A cada passo, um tropeço, um nó desatado. Mas os nós brotam. Nem todos desmancham. Não era o fim. O fim se foi. E o começo volta. Dessa vez com curvas e com placas que nem sempre indicam saídas mas outros caminhos se embrenhando numa rede para aprender a lidar com ela e chegar ao final para o outro começo.
Me faço entender, mas não faço ninguém me entender. Só leia e compreenda o que sentir melhor. Esse texto tem pé e cabeça, sim. Contudo, um corpo desengolçado, mas um corpo.

Fábrica de moldes

O convencional
Convence
O convencional
Seleciona
O convencional
Emociona
O convencional
Imposiciona
O convencional
Repete

A foto e a borda
A borda prende a foto
A foto preenche a borda

A roupa entende o corpo
Um corpo tenta entender a roupa

Numa noite

Cruzei ruas
Muitos passos
Sem pés

Segurava pesos no alto
da cabeça
Se perde o vento
Do medo que entra
nos olhos

Em direção às ondas
do profundo breu
Calmaria espera
E eu à espreita

Indo e ficando

Pulsações

Muito de sonho
Faz cair nas nuvens
Muito de chão
Faz enterrar no vão
É por isso que andar no meio
É subir e descer
Ir em direção à luz
Sempre envolto de sombra
Viver intensamente
Morrer constantemente

Parada em meio à ventania
das horas
Barulho mudo
Seguindo a linha reta onde
O destino faz a curva
Me leva sem voltar

Cada passo em frente
Foi o caminho percorrido
Às vezes vou
Talvez evite
Nunca volto
Sempre sigo

Refúgio

Já não bate à minha porta
Já não olha a minha cara
Caída, não tinha mais onde
apoiar, então rastejo e insisto

Quando levanto dou as costas
Dou o primeiro passo
O primeiro sorriso

A dança segue
A música volta
O casal gira
O passado se impõe

Estirada volto a me cobrir
Me recolho à concha
Mergulho fundo, contra a superfície

Círculos e curvas

Vivo dentro do concreto de quadro paredes
Meu movimento se dá à carcaça de quadro rodas
O caminho é previsto e sem desvio.

Pessoas vem, entram dentro de peneiras temporais
Umas ficam, outras vão
Amores vem como brisa,
Vão como os dias
Quando não se espera em vão.

Resta eu em círculos, resta os grãos traçando caminhos,
Mais o que ainda não é,
O que está,
O que não há.

A face de dentro e face de fora da moeda

Mãe... pai... parentes. Professores... colegas... amigos... conhecidos... inimigos. Isso pode tanto se juntar como se separar ou mudar. Ajudar, consolar, está lá, ser útil... Enganos, enganados, erros, acertos, perdas, ganhos, decisões... Tudo coexiste numa mesma forma ou se divide em duas. O eu que está dentro e o eu que está fora se tornaram duas pessoas diferentes. Lá fora o eu se torna escravo dos outros, lá dentro o eu arquiteta um plano de fulga. O que fica do lado de fora se cansa, se revolta... e lá dentro adoece. No fundo, o que estava lá sempre teve razão, sempre soube de tudo. Porém, lá fora sempre haverá uma criança que gosta q chamar atenção e teimosa, ora aprende com o erro, ora persiste no erro.

"Entrelinhas"...

... é um tipo de interpretação que se percebe aquilo que ñ se lê nem se ouve. São palavras q trazem idéias suspensas. Pensando bem, a própria palavra "entrelinhas" trazem idéias, se levado em consideração seu significado. Algo "entre-linhas", assim sendo espaços vazios rodeados por linhas. Essas linhas produzem os espaços vazios que, apesar disso, estão lá. Se pensar em "entrelaçar", seriam ideias entrelaças, amarradas por linhas que figurativamente seriam palavras. Loucura, imaginação aguçada até demais? ... são pontos de vista, maneiras de se receber uma informação e recombiná-las logicamente. Frio, racional? ... é aleatório, algo que vem d dentro, mas sistematicamente organizado com coisas de fora.

Uso freneticamente as entrelinhas
Pra ficar no dito a favor do ñ dito!
Uma estratégica batalha naval em que posiciono as palavras
As atiro ao alvo sem dó, esperando acertar
Uma reação, um sinal...
Ñ uma guerra, uma sintonia
Ñ uma direção, uma interação.